Diogo Alexandre Bock Ensemble: “Pipe Tree”

Pipe Tree é um disco raro no panorama jazzístico português por ser diferente e ambicioso, procurando – e conseguindo – traçar um caminho próprio.

Gonçalo Falcão - Jazz.pt

Diogo Alexandre Bock Ensemble: “Pipe Tree” (JACC Records)

Gonçalo Falcão

 

Gosto dos discos que começam na capa e este “Pipe Tree” é um dos casos em que se pode julgar um disco pela dita: uma montagem alucinada do músico sobre um chão disco sound, com uma girafa fora de proporção, uma savana ao fundo, berlinde metalizado com brilhos de adolescente no Instagram... bem, um hino aos melhores exemplos das capas gordurosas dos discos funky.
Colocado na prateleira do leitor de CD’s e posto a rodar, a música não trai: muito boa.

Diogo Alexandre fez-se notar na festa do jazz de 2019. O baterista mostra agora que tem ideias interessantes para escrever música neste disco, lançado pela JACC Records. Apesar de ser quase um disco de estreia e de Diogo Alexandre ser ainda muito novo, ouvimos um músico adulto, experimental, que mistura sem medos estilos e ideias para a construção de uma música com voz própria.

Sentimos particularmente a presença de polirritmias, do zapping da subversão de compassos e, de algum modo, a presença das lições rítmicas do M-Base de Steve Coleman ou de bateristas como Eric Harland ou Christian Lillinger, Dan Weiss. Sim, é um disco de um baterista e a bateria impõem-se; mas há um encantamento por sentirmos  - coisa rara – uma enorme paridade entre as questões rítmicas e as melódicas, especialmente se tivermos em conta que é um septeto (aumentado com voz em duas das músicas). Soube rodear-se de um grupo de músicos muito bem apetrechados tecnicamente para garantir a rigorosa entrega da sua música complexa: André Fernandes  na guitarra, Demian Cabaud ou João Mortágua, são alguns dos presentes.

Pipe Tree é um disco raro no panorama jazzístico português por ser diferente e ambicioso, procurando – e conseguindo – traçar um caminho próprio.